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Sobre karma, yoga, reencarnação, brahmam, etc
Karma e reencarnação.
O
sofrimento humano é um dos mistérios mais difíceis com que a religião
tem que lutar. Por que sofrem os inocentes? Por que Deus permite o mal?
Está Deus impossibilitado de atuar ou Ele escolhe não intervir? E se
ele escolhe não atuar, quer dizer isso que Ele é cruel? Será
indiferente, então? A Vedanta considera que o problema não tem
relação com Deus e o põe em nossas próprias mãos. Não podemos culpar
nem a Deus, nem ao Diabo. Nada passa pelo capricho de alguma força
externa a nós: Nós mesmos somos responsáveis pelo que nos traz a vida;
todos estamos colhendo os resultados de nossas próprias ações que
levamos a cabo nesta vida ou em vidas passadas. Para entender isto,
precisamos entender a lei do karma. A palavra karma é originária do
verbo sânscrito kri, fazer. Embora karma queira dizer ação, compreende
os resultados da ação. Todos os atos que temos executado e todos os
pensamentos que tivemos, deixam uma impressão em nossas mentes e no
Universo que nos rodeiam. O Universo nos devolve o que nós lhe damos.
“Como é sua semeadura, será sua colheita”, disse Cristo. Boas ações
produzem bons efeitos e más ações produzem maus efeitos.
Impressões mentais
Sempre
que executamos uma ação e sempre que desenvolvemos um pensamento, uma
impressão – uma espécie de vestígio sutil – se grava na mente. Essas
impressões ou marcas se conhece como Samskaras. Às vezes somos
conscientes do processo de impressão e às vezes não. Quando as ações
são repetidas, as marcas se fazem mais profundas. A combinação de
vestígios felizes, ou samskaras, formam nosso caráter e influenciam
nossos pensamentos e ações subseqüentes. Por exemplo, se somos
propensos a nos zangar facilmente, criamos uma mente raivosa que está
predisposta a reagir mais com ira de que com paciência e compreensão.
. Assim como a água que uma vez canalizada aumenta
sua pressão, de igual modo os vestígios na mente criam um padrão de
comportamento o qual é extraordinariamente difícil de resistir. Mudar
um hábito mental estabelecido é literalmente uma batalha terrível. Se
nossos pensamentos são predominantemente de amor, bondade e compaixão,
nosso caráter se reflete e esses mesmos pensamentos regressarão a nós
cedo ou tarde. Se emitimos pensamentos de ódio, ira ou mesquinhez,
estes pensamentos também nos voltarão. Nossos pensamentos e ações
não são flechas, mas bumerangues, que eventualmente retornarão a quem
os emitiu. Os efeitos do karma podem voltar instantaneamente, anos
depois ou em uma vida futura. O que é absolutamente certo, é que os
efeitos nos chegarão em um momento ou outro. Enquanto não alcançamos a
libertação, vivemos e morremos entre o cativeiro da lei do karma, a
cadeia de causa e efeito. Que acontece quando morre uma pessoa que ainda não tenha alcançado a libertação? Quando
morre uma pessoa, o único que morre é o corpo físico. A mente que
contém as impressões desta pessoa continua depois da morte do corpo.
Quando a pessoa volta a encarnar, o “nascimento” é de um novo corpo
físico, acompanhado pelas velhas impressões ou vestígios das vidas
passadas. Quando o meio ambiente é apropriado, essas samskaras brotam
(como sementes) e surgem novamente. Este processo não é eterno,
graças a Deus. Quando alcançamos a realização de Deus ou a
auto-realização, a lei do karma é transcendida, o Eu renuncia a sua
identificação com o corpo físico e a mente e recobra sua liberdade,
perfeição e felicidade absoluta. Tudo isso soa muito bem, mas
quando nos fixamos no mundo que nos rodeia, não parece ter sentido. Se
nos basearmos nas aparências, há muitos malvados que escapam do verdugo
do destino: quantos morreram pacificamente em seus lares. E pior,
quanta gente nobre sofreu sem causa aparente, sua bondade paga com ódio
e tortura. O Holocausto Nazista é um testemunho disto. O abuso infantil
é um testemunho disto.
Um universo absurdo?
Se observarmos
unicamente a superfície, o Universo, em seus melhores momentos, parece
absurdo e em seus piores, malévolo. Mas isso é porque nossa observação
carece de profundidade; estamos vendo somente esta vida e não as que
precederam e nem as que possivelmente venham no futuro. Quando vemos
uma calamidade ou um triunfo, estamos observando um só quadro de um
longa-metragem. Não sabemos nada do começo ou fim do filme. No entanto,
o que sabemos é que cada um de nós, sem nos importar com quão
vergonhosos tenham sido nossos atos, chegaremos logo, de muitas
existências e muitos sofrimentos, a realizar nossa própria natureza
divina. Este é o inevitável final feliz do filme.
Karma = Fatalismo?
Acaso a lei do karma faz da Vedanta uma filosofia fria e fatalista? Não, nem o mínimo. A
Vedanta habilita e dota de poder o individuo e é também profundamente
compassiva. Em primeiro lugar, se nós mesmos temos criado através de
nossas ações e pensamentos, a vida que hoje vivemos, isto quer dizer
que temos o poder de criar uma nova vida, a que viveremos amanhã. Embora
gostemos ou não, embora aceitemos a responsabilidade ou não, isto é o
que estamos fazendo de todos os modos, a cada passo do caminho. A
Vedanta não nos permite jogar a culpa em ninguém: cada ação e
pensamento constroem nossa experiência futura. Não instiga a lei do karma a sermos indiferentes a nossos semelhantes porque, depois de tudo, estão recebendo o que merecem? Absolutamente
não. Se alguém está sofrendo a causa de seu karma, não está brindando a
oportunidade de aliviar esse sofrimento de acordo com nossa capacidade;
fazendo-o, obteremos bom karma. Não necessitamos de heróis imprudentes,
mas sempre podemos dar uma mão ou, ao menos uma palavra bondosa. Se
escolhermos não utilizar nosso limitado poder, embora seja para aliviar
em algo a dor dos que nos rodeiam, estaremos criando mal karma para nós
mesmos. Desta maneira, realmente estamos nos prejudicando.
Unidade é a lei do Universo e essa verdade é a raiz
real de todos os atos de amor e compaixão. O Atman, o verdadeiro Eu, é
o mesmo espírito que mora em todos; não pode haver dois Atmans. Não se
pode dividir a consciência; é onipresente e tudo a penetra. Meu Atman e
teu Atman não podem ser diferentes. Por essa razão a Vedanta diz: Ama a
teu vizinho como a ti mesmo porque tu és o teu vizinho.
Os yogas
Os yogas
Enquanto em anos recentes, quando a
palavra “yoga” se escutou mais em academias que em discursos
religiosos, “yoga”, em seu sentido original, tem muito pouco que ver
com exercícios. “Yoga” se deriva do verbo sânscrito yuj, juntar ou
unir. A meta do yoga é unir-se com Deus; a prática da yoga é o método
que utilizamos para realizar este fim. Os aspirantes espirituais
podem se classificar em quatro variedades psicológicas; o
predominantemente emocional, o predominantemente intelectual, o
fisicamente ativo e o meditativo. Há quatro yogas primárias para cada
tipo psicológico. Devemos esclarecer desde o princípio que estas
categorias não são de caráter exclusivo. Na verdade, seria
psicologicamente desastroso que alguém fosse completamente emocional,
completamente intelectual, completamente ativo ou completamente
meditativo: cada yoga está presente no outro.
O Caminho de Amor
Para
aqueles que são mais de caráter emocional que intelectual, Bhakti-yoga
é recomendado. Bhati-yoga é o caminho de devoção, o método de união com
Deus por meio do amor e contemplação amorosa Dele. A maioria das
religiões enfatiza este caminho espiritual porque é o mais natural.
Assim como nos outros yogas, a meta do bhakta, ou o devoto de Deus, é
alcançar a realização de Deus, é unir-se com a divindade. O bhakta
alcança isto por meio da força do amor, a mais poderosa e irresistível
das emoções. O amor é acessível a todos: todos amamos a alguém ou
a algo e freqüentemente com grande intensidade. O amor faz com que nos
esqueçamos de nós mesmos com nossa atenção entregue ao objeto de nossa
adoração. O ego perde sua força enquanto pensamos no bem-estar de nosso
Bem-amado mais e que em nós. O amor nos dá concentração: até contra
nossa vontade recordamos constantemente o objeto de nosso amor. É o
modo mais simples e sem sofrimento de criar, mediante o amor puro e
sincero, as condições necessárias para uma vida espiritual frutífera. Portanto, a Vedanta diz: Não desperdiceis o poder do amor.
Utiliza essa força poderosa para a realização de Deus. Devemos lembrar
que quando amamos alguém, estamos amando a divindade dentro dela ou
dele, mesmo de uma maneira inconsciente. Nos Upanishads lemos: “Não é
pelo esposo que o esposo é amado, mas pelo Eu”. Nosso amor pelos outros
chegará a ser inegoísta e desinteressado, quando formos capazes de
encontrar a divindade neles. Infelizmente,
o usual é que coloquemos mal nosso amor. Nós projetamos nossa visão do
que é verdadeiro, perfeito e belo e o impomos sobre quem amamos. A
verdade é que Deus é Verdadeiro, Perfeito e Belo. Portanto a Vedanta
diz: Põe teu amor no lugar correto: no Ser Divino dentro de cada pessoa
que encontramos. Esse é o objeto real de nosso amor. Mais que nos
obcecar por um ser humano limitado, deveríamos pensar em Deus com
desejo no coração. Muitos mestres espirituais têm recomendado adotar
uma atitude devocional para Deus: pensando Nele como nosso Senhor, Pai,
Mãe, Amigo Filho ou Bem-amado. O fator determinante aqui é: Qual
atitude é mais natural para mim e qual atitude me aproxima mais
intimamente de Deus? Jesus veio a Deus como o seu Pai no céu.
Ramakrishna adorava a Deus como Mãe. Muitos grandes santos têm
alcançado a perfeição através da adoração de Deus como o menino Jesus
ou o menino Krishna. Muitos têm obtido a perfeição adorando Cristo ou a
Krishna como o Bem-amado. Outros chegam à perfeição adorando a Deus
como amo ou amigo. O que se deve lembrar é que Deus é nosso. Ele é
o mais intimo entre os íntimos e o mais querido dos queridos. Quanto
mais absortos estes nossos pensamentos no nosso Senhor ou na Mãe
Divina, de acordo com nosso ideal, mais próximo ficaremos da meta da
vida humana, a realização de Deus. Muita gente é atraída a
adoração de Deus pelo amor e devoção. Outra espécie de aspirantes está
mais motivada pela razão do que pelo amor.
. Para eles, o caminho de bhakti-yoga não é
apropriado. Quem está dotado de um intelecto discriminante, poderá
estar apto para o caminho da jnana yoga, lutarão para atingir a
perfeição através da razão.
O caminho do conhecimento
Jnana
yoga é o caminho do conhecimento, não o conhecimento no sentido
intelectual. O conhecimento de Brahman e Atman e a realização de sua
unidade. Enquanto os devotos, através de bhakti seguem os impulsos de
seu coração, o jnani segue os poderes da mente para discernir entre o
real e o irreal, o permanente e o transitório. Jnanis são os
seguidores da Vedanta advaita (não-dualista); também podem ser chamados
“monistas”, já que afirmam a única realidade de Brahman. Todos os
seguidores da vedanta são monistas: todos os vedantistas afirmam a
única realidade de Brahman. A diferença está na prática: enquanto todos
os vedantistas são filosoficamente monistas, aqueles que são devotos de
Deus preferem pensar que Deus é distinto deles para poder, deste modo,
gozar da doçura da adoração; em contraste os jnanis, conhecedores de
que toda dualidade é ignorância, sustentam que não há necessidade de
buscar a divindade fora de nós mesmos. Nós já somos divinos. O que
é que nos impede de conhecer nossa natureza real e a natureza real do
mundo que nos rodeia? O véu de maya. Jnana yoga é o processo que
desgarra esse véu, mediante uma aproximação de dupla análise
filosófica: positivo e negativo. A primeira parte da aproximação e
o da negação, o processo de neti, neti (isso não, isso não). Todo o
irreal - isto é, o transitório, imperfeito, sujeito à mudança – é
rechaçado. A segunda parte é o da afirmação: tudo o que se percebe como
permanente, perfeito e eterno e se aceita como real, no sentido mais
elevado.
Estamos dizendo que o Universo que percebemos é
irreal? Sim e não. Do ponto de vista do absoluto, é irreal. O Universo
e nossa percepção do mesmo é só uma realidade limitada, não uma
realidade absoluta. Regressando à parábola da corda e da serpente: a
corda, isto é, Brahman, se percebe como a serpente, o Universo tal como
o percebemos. Enquanto vemos a serpente como serpente, percebemos uma
realidade limitada. Nossos corações palpitam como reação. Mas quando
reconhecemos que “a serpente” é, na realidade, uma corda, então nos
riremos de nosso equívoco. Similarmente, qualquer coisa que percebemos
através de nossos sentidos, nossa mente ou nossa inteligência, está
inerentemente restringida pela mesma natureza de mente e corpo. Brahman
é infinito e, portanto, não se pode restringir. Este Universo em
contínua mudança – de espaço, tempo e causa – não pode ser Brahman e
infinito, que tudo o penetra. Nossas mentes estão limitadas por todo o
tipo de condição. Qualquer coisa que a mente e o intelecto percebam,
não pode ser o infinito e completo Brahman. Brahman tem que estar mais
além do que a mente do que nossa mente possa compreender; os Upanishads
declaram que Brahman “está mais além do alcance da fala e da mente”. Mesmo
assim, até o que percebemos não pode ser outra coisa maior que Brahman.
Brahman é infinito, todo penetrante e eterno. Não pode haver dois
infinitos; o que vemos continuamente tão somente pode ser Brahman;
qualquer limitação pertence a nossa percepção equivocada. Os jnanis
removem, pela força, esta percepção errônea, através do processo
negativo do discernimento entre o real e o irreal e através do processo
positivo de Auto-afirmação. Na prática da Auto-afirmação,
continuamente afirmamos o que é real de nós mesmos; não estamos
limitados por um pequeno corpo físico, nem por nossas mentes
individuais. Somos espíritos. Nunca nascemos e nunca morremos. Somos
puros, perfeitos e eternamente livres. Esta é a grande verdade de nosso
ser.
A filosofia que forma a base da Auto-afirmação é
singela: tal como pensas, assim serás. Nos temos programado por
milhares de vidas pensando que somos limitados, frágeis e desamparados.
Que mentira tão horrível é esta e que incrivelmente destrutiva! É o
pior dos venenos. Se nos consideramos como frágeis, nos comportaremos
como tais. Se nos consideramos como pecadores desamparados, sem dúvida
nos comportaremos como tais. Se nos consideramos Espíritos - puros,
perfeitos e livres – também nos comportaremos como tais. Assim,
mantendo pensamentos equivocados, criamos impressões equivocadas; assim
também devemos inverter o processo, alimentando nossas mentes com
pensamentos corretos, pensamentos de pureza, pensamentos e força,
pensamentos de Verdade. “Sou sem mancha alguma, sereno, feito de
consciência pura e além de toda natureza. Todo esse tempo, tenho sido
enganado pela ilusão”, de Ashtavavra Samrita, texto clássico de
Advaita. Jnana yoga usa nossos poderes mentais para pôr fim ao
processo de engano, para saber que até agora somos como sempre temos
sido: livres, perfeitos, infinitos e imortais. Realizando isto,
reconheceremos nos demais seres a mesma divindade, a mesma pureza e
perfeição. Já não confinados a dolorosa limitação do “eu” e o “meu”,
veremos Brahman em todas as partes e em tudo.
O Caminho do Trabalho
O Caminho do Trabalho
Karma yoga é o yoga da
ação ou trabalho; especificamente Karma yoga é o caminho do trabalho
dedicado: renunciando aos frutos de nossas ações como oferendas
espirituais, em lugar de acumular os resultados para nós mesmos. Como
mencionamos anteriormente, karma é ação e o resultado da ação. O que
hoje experimentamos, é o resultado do nosso karma – bom ou mau – criado
por nossas prévias ações. Essa cadeia de causa e efeito pode ser
quebrada por Karma yoga: combatendo fogo com fogo, utilizamos o Karma
yoga para defender a roda de causa e efeito. Impedindo nosso ego de
ingressar nos trabalhos que realizamos e oferecendo os frutos de nossas
ações a um poder elevado, ou seja, Deus pessoal ou Eu interno. A
todo momento estamos executando ações, inclusive o pensar é uma ação.
Dado que a ação é inevitável, forma parte de estar vivo, necessitamos
leva-la para um caminho que nos conduza à realização de Deus. No
Bhagavad Gita um dos textos mais sagrados, podemos ler:
Qualquer que seja sua ação, comida ou adoração; Qualquer que seja o regalo Que dás aos outros, Ou que sejam teus votos Para a obra do espírito... Entrega-me tudo isto Como oferenda a mim.
Todos
nós tendemos a trabalhar, mantendo grandes expectativas na mente:
trabalhamos duramente em nossos ofícios para ganhar o respeito e estima
de nossos colegas e para receber ascensão na posição. Limpamos nossos
pátios e jardins e os adornamos com arbustos e flores, com a esperança
de que nossos vizinhos os apreciem. Estudamos duramente para obter boas
qualificações, antecipando um futuro promissor. Cozinhamos uma saborosa
comida, pensando que será recebida com aplausos e louvores. Nos
vestimos bem para agradar alguém. Grande parte de nossas vidas se perde
esperando bons resultados. Fazemos isto automática e inconscientemente.
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