KARMA YOGA
AUTO-REALIZAÇÃO PELA AÇÃO ALTRUÍSTA
O que é Karma Yoga?
      O  conhecimento do segredo do mundo. Observamos que todo o universo está em  atividade. Para que? Para a salvação, pela liberdade. Do átomo à mais
      evoluída  criatura, todos agem para alcançar um objetivo: liberdade...
      Todas  as coisas estão sempre a procura da liberdade...
Para  rompermos os liames que nos prendem ao mundo precisamos percorrê-lo devagar e  com segurança.
    Karma  Yoga revela o processo, o segredo e o método de fazê-lo da melhor forma.
O que diz Karma Yoga?
Aja  sem parar, mas abandone o apego pela ação exercida. Não se identifique com  coisa alguma. Mantenha a mente livre.
  “Eu  e meu” são a causa de todo padecimento. Com o sentimento de posse surge o  egoísmo, e o egoísmo causa sofrimento. Todo ato ou pensamento egoísta  prende-nos a alguma coisa ou a alguém e imediatamente somos escravizados. Por  isso, Karma Yoga nos ensina a desfrutar de todas as belas coisas do mundo, sem  indentificar-nos com nenhuma delas. Nunca diga “meu, minha”, pois o sofrimento  virá imediatamente. Nem mesmo diga “meu filho” em sua mente, pois se disser a  dor virá. Nisso reside toda a dificuldade.
      Existem  dois caminhos para renunciar a todo apego. Um destina-se a quem não acredita em  Deus, ou em qualquer socorro externo e conta somente com seus próprios  recursos. Basta que acionem a vontade, os poderes da mente e do seu  discernimento, dizendo: “Não devo apegar-me”.
Para  os que acreditam em Deus, há outro caminho, muito menos difícil. Entregam os  frutos de seu trabalho ao Senhor. Eles agem e nunca se apegam aos resultados...  “O que quer que façais – tudo oferecei a Ele e ficai em paz.”
      Estejamos  em paz, em perfeita paz, entregando nosso corpo, mente, tudo, em perene  oferenda ao Senhor. Ao invés do sacrifício de derramar oferendas ao fogo, faça  dia e noite, este único sacrifício – a imolação de seu pequeno eu.
  “Procurei  riqueza nesse mundo, Tu és o único tesouro que encontrei; entrego-me em  sacrifício a Ti. Procurei a quem amar, Tu és o único bem-amado que encontrei,  eu me dou em oferenda a Ti.
      Vamos  repetir dia e noite: “Nada para mim... Tudo para Ti.”
      Karma Yoga nos ensina que a idéia comum  que se tem dever situa-se num plano inferior. No entanto, cada um de nós tem  seu dever a cumprir.
      O  dever é bom na medida em que refreia a brutalidade. Para os tipos humanos  inferiores, que não possuem nenhum ideal mais elevado, o dever tem algum valor;  mas os que pretendem vir a ser karma iogues precisam livrar-se desse conceito  de dever. Não há dever para você ou para mim... O único dever legítimo é  agirmos como seres livres e sem apegos, oferecendo nossas ações a Deus.
      Estamos  todos apenas cumprindo com a vontade de Deus... Se você quer recompensa, também  terá punição. O único jeito de livrar-se da punição é renunciar à recompensa. O  único jeito de transcender esses contrários é renunciar ao amor que sentimos  pela vida. Viver e morrer são a mesma coisa vista de perspectiva diferente. Não  busque recompensa ou elogio em nada do que venha a fazer.
Só  nos cabe dizer a Ele, com admiração e reverência: “Seja feita a Tua vontade.”
      Os  homens superiores não podem agir, pois neles não existe apego. Para aqueles que  se estabeleceram definitivamente no Ser não há mais ação. São os seres mais  elevados. Excluídos esses, todas as outras pessoas precisam agir. Ao agirmos,  porém, nunca deveríamos pensar que podemos ajudar nem mesmo o mais ínfimo ser  deste universo, pois não podemos. No ginásio desse mundo só ajudamos a nós  mesmos. Essa é a atitude correta perante a ação.
      Renuncie  a todos os frutos da ação, faça o bem pelo bem. Só então virá o perfeito  desapego.
      Enquanto  durar esse mundo, haverá e precisará haver diferenciação e o ideal de igualdade  perfeita virá somente quando o ciclo da criação chegar a seu término. Antes disso,  a igualdade é impossível.
      Assim  como a desigualdade é necessária à própria criação, o esforço para limitá-la é  imprescindível. Se não estivesse lutando para tornar-se livre e regressar a  Deus, nem mesmo a criação existiria.
      Sempre haverá esses impulsos em ação,  alguns conduzindo à servidão, outros à liberdade.
      Todos acreditam que ao cumprir com um  determinado dever poderão descansar, mas antes de terminarmos uma parte desse  dever, já existirá outro à nossa espera. Todos nós estamos sendo arrastados por  essa enorme e complexa máquina chamada mundo. Só existem dois caminhos de  saída. O primeiro é desinteressar-nos pela máquina e deixá-la funcionar,  enquanto ficamos à parte. É renunciar aos desejos. É fácil falar, porém quase  impossível fazer. Não sei se entre vinte milhões de homens exista um único que  seja capaz de fazê-lo.
      O outro caminho é mergulhar no mundo e  aprender o segredo da ação: o caminho da Karma Yoga. Não fuja da máquina do  mundo, fique dentro dela e aprenda o segredo da ação. Pela ação correta  realizada no mundo, podemos dele escapar.
      Vimos em que consiste a ação. É parte  fundamental da natureza e jamais cessa. Embora esse universo vá existir por  toda a eternidade, nosso objetivo é a liberdade, o altruísmo. De acordo com a  Karma Yoga, essa meta é para ser alcançada pela ação.
      O karma iogue indaga por que você  precisa de outro motivo para agir além do amor inato à liberdade.
      O karma iogue afirma que o homem pode  tornar-se apto a aprender a pôr em prática esses ensinamentos.
      Quando a idéia de fazer o bem tornar-se  parte integrante de seu ser real, ele não irá procurar nenhum motivo externo.  Façamos o bem porque é bom fazer o bem. Toda ação praticada, mesmo que o motivo  seja o menos egoísta de todos, em vez de libertar-nos, forja mais um grilhão.
      A única saída é renunciar aos frutos da  ação, desapegando-se deles.
      É muito bom dizer que devemos ser  completamente desapegados, mas como alcançar essa meta?
      Cada boa ação praticada sem motivo  ulterior, em vez de forjar um novo grilhão romperá elos das cadeias existentes.  Cada bom pensamento que enviamos ao mundo sem esperar retribuição, ficará  armazenado para romper um elo da cadeia, tornando-nos cada vez mais puros, até  que nos tornemos o mais puro dos mortais.
      Buda foi o profeta que levou a prática  da Karma Yoga à perfeição, e o único a afirmar:
“Não tenho vontade de conhecer as diversas teorias sobre Deus. Que utilidade tem discutir as doutrinas sutis sobre a alma? Faça o bem e seja bom. Isso o conduzirá à liberdade e à verdade, seja ela qual for.”
Buda não era levado por motivos pessoais na condução de sua vida. Ele é karma iogue ideal, servindo inteiramente sem esperar nada em troca. Disse:
“Acredite não por causa de velhos  manuscritos, não porque se trate de uma crença nacional ou porque o fizeram  acreditar nisso desde a infância. Reflita a respeito e depois de fazer uma  análise, se achar que fará bem a todos, acredite nessa filosofia, viva de  acordo com ela e ajude os outros a segui-la.”
      Deus  permite que você aja. Permite que exercite os músculos nesse grande ginásio,  não para ajudá-lo, mas para ajudar-se a si mesmo...
      Abençoados  somos nós que temos o privilégio de servi-Lo – e não de ajudá-Lo. Elimine a  palavra “ajuda” de sua mente. Deus é tudo em tudo. Adore-O.
      Mantenha  essa atitude reverente em face do universo, e então alcançará perfeito  desapego. Esse é o seu dever. Essa é a atitude correta que devemos ter ao agir.  A Karma-Yoga nos ensina o segredo.
      O  karma iogue compreende que a não-resistência é o ideal supremo. Até alcançarmos  essa elevada aspiração, é nosso dever resistir ao mal... Somente após ter  conquistado o poder de resistir, a não-resistência será uma virtude.
      Os  grandes Mestres ensinaram: “Não resista ao mal” – sendo a não-resistência o  mais elevado ideal moral.
      No  entanto, o homem que resiste ao mal nem sempre está cometendo um erro;  dependendo das circunstâncias, resistir ao mal pode vir a ser um dever.
      Cada  pessoa, conforme as escrituras hindus, tem deveres que lhe são próprios, além  dos que são comuns a todos.
      O  chefe de família é a base, o sustentáculo da sociedade, da qual é o principal  provedor. Os pobres, os doentes, as crianças e as mulheres, que não trabalham,  dependem todos do chefe de família.
      O  dever do monge consiste em devotar suas energias à religião, pregar e adorar a  Deus.
Cada  um é grande a seu modo.
      Se  as necessidades de uma pessoa forem removidas por uma hora, essa ajuda é  valiosa;
      Se  as suas necessidades forem removidas por um ano, a ajuda será mais valiosa  ainda;
      Porém,  se as suas necessidades forem removidas para sempre, essa ajuda é, com certeza,  a ajuda mais preciosa que pode ser-lhe prestada.
      Somente  o conhecimento espiritual pode destruir a infelicidade para sempre... O grande  benfeitor da humanidade é quem transmite o conhecimento espiritual.
      Cada ação que praticamos, cada  movimento do corpo, cada pensamento que pensamos deixa uma impressão mental...  O que somos a cada momento é determinado pela soma dessas impressões da mente.  Sou, nesse momento, o efeito da soma de todas as impressões de minha vida  passada. A isso dá-se o nome de caráter.
      Quando uma pessoa fez tanto bem e teve  tão bons pensamentos, existe nela uma tendência irresistível de fazer o bem.  Ainda que possa vir a desejar fazer o mal, a totalidade das tendências de sua  mente não lhe permitirá que o faça...
      Há um estado ainda mais elevado do que  ter boas inclinações, no qual desejamos a libertação.
      Libertação significa liberdade em toda  a sua extensão: ser livre do que nos prende ao bem e ao mal...As más tendências  devem ser neutralizadas pelas boas tendências e as más impressões da mente  devem ser removidas pelas ondas refrescantes do bem, até que todo o mal  praticamente desapareça...
      Depois disso, as boas influências  também deverão ser dominadas. O apego tornar-se-á em desapego.
      Portanto, seja desapegado. Deixe que as  coisas aconteçam; deixe que os centros cerebrais atuem. Aja incessantemente,  mas não permita que um ondulação domine sua mente. Aja como se você fosse um  estrangeiro na terra, um residente temporário...
      O ponto essencial desse ensinamento é  que você deve agir como senhor, não como escravo...
      Trabalhar como escravos traz consigo  egoísmo e apego, agir como senhores de nossa própria mente dá origem à  felicidade que provém do desapego.
      Apenas dois fatores guiam a conduta  humana: força e compaixão. O exercício da força é, invariavelmente, o exercício  do egoísmo...
Todo pensamento de esperar algo em troca do que fazemos prejudica nosso progresso espiritual e traz infelicidade.Outro modo de praticar esse ideal altruísta de misericórdia e caridade consiste em encarar a ação como uma forma de adoração,no caso de acreditarmos em um Deus pessoal.
Entregando os frutos de nossa ação ao  Senhor. Reverenciando-O dessa forma, não temos o direito de esperar nada da  humanidade pelo que fazemos. O próprio Senhor atua incessantemente, sem apego.  Assim como a água não pode molhar a folha do lótus, a ação não pode prender o  homem altruísta...