Sri Ramakrishna

"Se a gente pudesse tê-lo conhecido!" - dizemos.


SRI RAMAKRISHNA, o homem-Deus da Índia moderna, nasceu em Kamarpukur. Este vilarejo, no Distrito de Hooghly, conservou ao longo do século passado, a simplicidade das áreas rurais de Bengala. Situado longe da estrada-de-ferro, manteve-se intocado pelo encanto da cidade.

Sri Ramakrishna foi um estudante a vida toda. Muitas vezes costumava citar um provérbio a seus discípulos: "Amigos, quanto mais vivo, mais aprendo."

Atitudes em relação a Diferentes Religiões

Sri Ramakrishna aceitava a divindade de Buda e costumava assinalar a semelhança dos seus ensi-namentos com aqueles dos Upanishads. Mostrava, também, grande respeito pelos Tirthankaras, que fundaram o Jainismo e pelos dez Gurus do Sikhismo, mas não se referia a eles como Encarnações divinas. Ouviu-se que ele teria dito que os Gurus do Sikhismo haviam sido encarnações do rei Janaka da Índia antiga. Tinha em seu quarto em Dakshineswar, uma pequena estátua do Tirthankara Mahavira e um quadro de Cristo, diante dos quais queimava incenso de manhã e à noite.

Sem ser formalmente iniciado em suas doutrinas, Sri Ramakrishna realizou assim, os ideais de outras religiões, além do hinduísmo. Ele não necessitava seguir qualquer doutrina. Todas as barreiras eram removidas pelo seu amor arrebatador a Deus. Tornou-se, então, um Mestre das várias religiões do mundo, "Pratiquei", disse ele, "Todas as religiões – hinduísmo, islamismo, cristianismo – e segui, também, os caminhos das diferentes seitas hindus. Constatei que se trata do mesmo Deus para quem todos dirigem seus passos, embora seguindo caminhos diferentes.

Devem tentar todos os credos e trilhar todos os diferentes caminhos uma vez. Para qualquer lugar que olho vejo homens brigando em nome da religião – hindus, maometanos, brahmos, vaishnavas e assim por diante. Mas eles jamais pensam que Aquele que é chamado Krishna é, também, chamado Shiva e leva o nome de Energia Primordial, Jesus, Alá também – o mesmo Rama com mil nomes. Um lago tem mil ghats.

Num os hindus apanham água em seus potes e chamam-na "jal"; num outro, os muçulmanos apanham água em bolsas de couro e chamam-na "pani"; num terceiro os cristãos chamam-na "water". Podemos imaginar que não se trata de "jal", mas apenas "pani" ou "water"? Que ridículo! A substância é Una sob diferentes nomes e todos procuram a mesma substância; apenas clima, temperamento e nome criam diferenças. Deixe cada um seguir seu próprio caminho. Se ele sincera e ardentemente deseja conhecer Deus, paz para ele! Certamente O realizará."

 

Como Ramakrishna chegou até nós:

 

De todos os mestres espirituais hindus dos últimos séculos, Ramakrishna é talvez o mais conhecido no Ocidente, graças ao trabalho de divulgação de seu discípulo Vivekananda nos Estados Unidos e na Inglaterra, continuado por outros grandes discípulos da primeira e depois da segunda geração. Na França, sua fama se deve às biografias de Ramakrishna e Vivekananda escritas por Romain Rolland em 1929 (biografias admiráveis aliás, e que continuam sendo, provavelmente, os livros mais lidos de um escritor outrora célebre e agora um pouco esquecido).

A influência atual do hinduísmo no Ocidente não precisa ser destacada: basta dar uma olhada na seção "Religiões" de uma grande livraria. O movimento criado por Ramakrishna é uma das forças principais que, na própria Índia, fizeram renascer o vigor e o orgulho de uma religião humilhada pelas agressões estrangeiras — e seu hinduísmo é totalmente isento do amontoado de quinquilharias ocultistas tão difundido aqui. Como ele mesmo o previra, o ensinamento desse pequeno sacerdote que falava um bengali interiorano, estabelecido em um templo às portas da grande metrópole da Índia (Calcutá), espalhou-se pelo mundo inteiro.

Vivekananda e seus sucessores trouxeram a mensagem de Ramakrishna para o Ocidente como uma forma tolerante, universalista, da Vedanta não-dual. No ensinamento de Ramakrishna, o monismo de Shankara torna-se a verdade suprema, para a qual convergem as outras formas religiosas (inclusive o islamismo, o cristianismo, o budismo e as variantes devocionais da religião hindu). Essa apresentação é com certeza atraente para os hindus ou os ocidentais que se voltam para o hinduísmo. Mas não explica a atração que a personalidade de Ramakrishna exerce sobre pessoas que estão nitidamente fora dos círculos religiosos e não têm intenção de adentrá-los, como o próprio Romain Rolland. Os ocidentais vão buscar na Índia as técnicas de meditação (talvez até mesmo os "poderes ocultos da mente humana") e "o conhecimento do Eu".

Encontra-se tudo isso em Ramakrishna, que é um yogui e um vedantista. Mas ainda existe algo que nos toca mais profundamente, e faz dele um exemplo universal: um homem que só buscou Deus, e obteve todo o resto por acréscimo. A tendência ocidental é de falar muito de "religião", mas com temor ou vergonha de falar de Deus. Tudo segue essa tendência: crítica bíblica, psicanálise, discussões sobre moral, experiências no limiar da morte, parapsicologia, astrologia, especulações sobre o big bang ou os pré-hominídeos. Ramakrishna, por sua vez, não nos deixa escapatória: só fala de Deus. Por isso é necessário retomar suas próprias palavras, afastando os intermediários. Quem não estiver apto a segui-lo nesse terreno, pelo menos encontrará um interlocutor humanamente cheio de encanto e humor, o que não é tão habitual, sobretudo em se tratando de assuntos religiosos.

Propósito?

 

Resumo das experiências espirituais do mestre


Chegava agora o fim da sadhana de Sri Ramakrishna, o período de sua disciplina espiritual. Como conseqüência de suas experiências além dos sentidos, chegou a certas conclusões concernentes a si mesmo e à espiritualidade em geral. Suas conclusões sobre si mesmo podem ser resumidas assim:


  1. Primeiro, era uma Encarnação de Deus, uma pessoa especialmente comissionada, cujas experiências espirituais eram para o bem da humanidade. Enquanto uma pessoa comum leva uma vida inteira para realizar um ou dois aspectos de Deus, ele em poucos anos, realizou-O em todos Seus aspectos.

  2. Segundo, sempre soube que tinha sido uma alma livre, que as diversas disciplinas pelas quais havia passado, realmente não eram necessárias para sua própria liberação, mas somente para o benefício dos outros. As palavras liberação e escravidão não eram aplicáveis a ele. Enquanto houver seres que se consi-derem apegados, Deus tem que vir à terra como uma Encarnação, para libertá-los dessa escravidão, como um magistrado tem que visitar um lugar de seu distrito em que haja problemas.

  3. Terceiro, suas previsões sobre a época de sua morte concretizaram-se completamente.
    Sobre espiritualidade em geral, foram as seguintes suas conclusões:
    Primeiro, estava firmemente convencido de que todas as religiões são verdadeiras, de que todo sistema de doutrina representa um caminho para Deus. Seguira todos os principais caminhos e todos levaram-no ao mesmo objetivo. Foi o primeiro profeta religioso registrado pela história, a pregar a harmonia das religiões.

  4. Quarto, percebeu que os três grandes sistemas de pensamento conhecidos como Dualismo, Não-dualismo Qualificado e Absoluto Não-dualismo – Dvaita, Vishishtadvaita e Advaita – representam os três estágios do progresso do homem em direção à Realidade Suprema. Não se contradiziam, mas se complementavam e ajustavam-se aos diferentes temperamentos. Para o homem comum, com grande apego aos sentidos, a forma dualista de religião, prescrevendo uma certa quantidade de apoio material, como música e outros símbolos, é útil. Um homem que já realizou Deus transcende a idéia dos deveres mundanos, mas o mortal comum executa seus deveres, lutando para ser desapegado e entregar os resultados a Deus. A mente pode compreender e descrever a o pensamento e a experiência até o Vishishtadvaita, mas não além. A Advaita, a última palavra em experiência espiritual, é qualquer coisa a ser sentida em samadhi, porque transcende a mente e a fala. Do ponto de vista mais elevado, o Absoluto e Sua manifestação são igualmente reais - o Nome do Senhor, Sua Morada e o Próprio Deus são da mesma Essência espiritual.


  5. Quinto, Tudo é Espírito, a diferença está somente na forma.


  6. Sexto, Sri Ramakrishna realizou o desejo da Mãe Divina de que através dele, Ela fundaria uma nova Ordem, formada por aqueles que manteriam de pé as doutrinas ilustradas em sua vida.


  7. Sétimo, sua vida espiritual dizia-lhe que aqueles estavam em sua última encarnação nesse plano mortal de existência e aqueles que haviam chamado sinceramente pelo Senhor uma vez apenas durante sus vidas, deveriam vir a ele.


 

"Sri Ramakrishna pode ser considerado o avatar da era de aquário, pois sua "Lila" ou vida de ensinamentos leva a percepção de que todas as principais religiões são caminhos para a mesma meta, que é o aperfeiçoamento da mente humana e a busca da liberação da roda de reencarnações, a tolerância e a visão pratica, cientifica das coisas e sem preconceito é natural no signo de aquário, o signo dos valores sociais, Rramakrishna percebeu que teria de praticar cada religião para confirmar seu valor o que é mais uma forma cientifica de fazer as coisas."

Emerson Berlanda